Em
acordo com o que é estudado e com o que está em voga atualmente na educação da
Pessoa com Surdez (PS) o sucesso e o fracasso escolar deste sujeito não pode
ser responsabilizado pela adoção e/ou preferência de uma determinada
metodologia, seja ela oralistaou gestualista. Enquanto os que assim defendem
argumentam e embatem, a educação e o potencial deste público-alvo fica
menosprezado. Oralismo e Sinalização são ferramentas de uma mesma obra: A educação da
pessoa com surdez. Acrescenta-se a estas tantas outras quanto forem necessárias
e preciosas ao processo. A qualidade deste processo foge a discussão entre qual
destas é a mais relevante, mas está mais ligada ao processo de ensino e não a
linha de chegada.
A
pessoa com surdez não é considerada deficiente. Esta tem perda sensorial
auditiva e isso, embora a limite biologicamente na audição, representando perda
sensorial, não a limita nos aspectos cognitivos, linguísticos e outros. A
pessoa com surdez deve ser vista como ser descentrado, em que os aspectos
perceptivos, linguísticos e cognitivos podem ser estimulados o tornando pleno, capaz e cheio de potencialidades.
A
dicotomização do discurso, da metodologia, das pessoas é o que produz a
exclusão. Devemos ir à contramão desta ideia e perceber que a pessoa não deve aprender para ser
incluída, mas ser incluída para aprender.(SUPLINO, 2011[1]). O
ideal de educação de uma pessoa com surdez é dar oportunidades para que este público não se restrinja só ao
“mundo surdo”, mas que avance esta fronteira e tenha igual competência aos
demais. Pensar no processo educativo da pessoa com surdez é também pensar nas
potencialidades deste sujeito e estar totalmente imerso no contexto dito
“surdo”. Estar em dia com as suas relações, linguagens e redes de complexidades
e realidades, sem criar uma redoma em volta da PS e a separa-la em um gueto
gestualista. Entendemos que a proposta bilíngue, que vem superando as suas
anteriores, propostas oralistas e de Comunicação Total, oportuniza um
aprendizado amplo e a construção de um sujeito capaz de interagir e intervir na
sociedade, a tornando mais plural.
A estratégia bilíngue de ensino da pessoa com
surdez propõe que os dois idiomas convivam harmoniosamente no contexto escolar,
um sem diminuir o outro. LIBRAS é uma língua nacional, com seus linguísticos,
históricos, culturais e gramaticais e deve ser respeitada. O Sujeito que opta
por LIBRAS não deve ser considerado estrangeiro em seu próprio país. O
bilinguismo não pode dar lugar ao bimodalismo, onde um alterna com o outro.
Vale ressaltar que o Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005 determina o direito
de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua
Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade
escrita.
O
AEE PS deve ver o conhecimento não fragmentado, mas como uma teia de relações e
experiências. O cotidiano escolar deve ser valorizado através de uma
metodologia vivencial, em que o aluno aprende a aprender e o professor do AEE
busca os melhores recursos para operacionalizar a aula. Assim sendo, a
organização didática do AEE PS é idealizada mediante a formação do professor e
do diagnóstico inicial do aluno com surdez. Em seguida, o professor elabora o
plano AEE PS, envolvendo três momentos didático-pedagógicos:
·
Atendimento Educacional Especializado em
Libras, onde o AEE se encontrará no contraturno, planejando com os professores
das disciplinas, buscando recursos, criando e explicando conceitos e ampliando
o vocabulário técnico em LIBRAS.
·
Atendimento Educacional Especializado
para o ensino da Língua Portuguesa escrita; Feito no contraturno por
profissional gabaritado ao ensino de Letras, preferencialmente. Este irá
fomentar a leitura e a escrita da LP na PS. A exigência do aprendizado da
Língua Portuguesa do aluno com surdez não se dá no mesmo tempo e ritmo que os
ouvintes.
·
Atendimento educacional especializado
para o ensino de Libras, feito por instrutor e/ou professor de LIBRAS,
preferencialmente surdo. Este momento no AEE o aluno aprende os aspectos da
língua e seus aspectos e parâmetros.
Essas
contribuições são considerações
importantes para o ensino da pessoa com surdez. Os conteúdos ministrados
em língua oral, não garantindo o efetivo desenvolvimento e aprendizagem são exemplos
do fracasso que pode acontecer neste processo. Para tal o plano de AEE PS deve
respeitar o ambiente comunicacional das duas línguas e a participação ativa e
interativa dos alunos com surdez, assegurando uma aprendizagem efetiva.
[1]
SUPLINO, M.H.F de O. Inclusão mediada: considerações iniciais. Rio de Janeiro:
Ed. Diferenças, 2011.
Douglinhas
ResponderExcluirO seu texto ficou genial. Você conseguiu mesclá-lo com os conhecimentos adquiridos na disciplina PS e a sua rica experiência no AEE. Parabèns!!!!