quinta-feira, 6 de março de 2014

ASPECTOS IMPORTANTES NA EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM SURDEZ (Doug Alvoroçado)



Em acordo com o que é estudado e com o que está em voga atualmente na educação da Pessoa com Surdez (PS) o sucesso e o fracasso escolar deste sujeito não pode ser responsabilizado pela adoção e/ou preferência de uma determinada metodologia, seja ela oralistaou gestualista. Enquanto os que assim defendem argumentam e embatem, a educação e o potencial deste público-alvo fica menosprezado. Oralismo e Sinalização são ferramentas de uma mesma obra: A educação da pessoa com surdez. Acrescenta-se a estas tantas outras quanto forem necessárias e preciosas ao processo. A qualidade deste processo foge a discussão entre qual destas é a mais relevante, mas está mais ligada ao processo de ensino e não a linha de chegada.
A pessoa com surdez não é considerada deficiente. Esta tem perda sensorial auditiva e isso, embora a limite biologicamente na audição, representando perda sensorial, não a limita nos aspectos cognitivos, linguísticos e outros. A pessoa com surdez deve ser vista como ser descentrado, em que os aspectos perceptivos, linguísticos e cognitivos podem ser estimulados o tornando  pleno, capaz e cheio de potencialidades.
A dicotomização do discurso, da metodologia, das pessoas é o que produz a exclusão. Devemos ir à contramão desta ideia e perceber que a pessoa não deve aprender para ser incluída, mas ser incluída para aprender.(SUPLINO, 2011[1]). O ideal de educação de uma pessoa com surdez é dar oportunidades  para que este público não se restrinja só ao “mundo surdo”, mas que avance esta fronteira e tenha igual competência aos demais. Pensar no processo educativo da pessoa com surdez é também pensar nas potencialidades deste sujeito e estar totalmente imerso no contexto dito “surdo”. Estar em dia com as suas relações, linguagens e redes de complexidades e realidades, sem criar uma redoma em volta da PS e a separa-la em um gueto gestualista. Entendemos que a proposta bilíngue, que vem superando as suas anteriores, propostas oralistas e de Comunicação Total, oportuniza um aprendizado amplo e a construção de um sujeito capaz de interagir e intervir na sociedade, a tornando mais plural.
 A estratégia bilíngue de ensino da pessoa com surdez propõe que os dois idiomas convivam harmoniosamente no contexto escolar, um sem diminuir o outro. LIBRAS é uma língua nacional, com seus linguísticos, históricos, culturais e gramaticais e deve ser respeitada. O Sujeito que opta por LIBRAS não deve ser considerado estrangeiro em seu próprio país. O bilinguismo não pode dar lugar ao bimodalismo, onde um alterna com o outro. Vale ressaltar que o Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005 determina o direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, em que a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, preferencialmente na sua modalidade escrita.
O AEE PS deve ver o conhecimento não fragmentado, mas como uma teia de relações e experiências. O cotidiano escolar deve ser valorizado através de uma metodologia vivencial, em que o aluno aprende a aprender e o professor do AEE busca os melhores recursos para operacionalizar a aula. Assim sendo, a organização didática do AEE PS é idealizada mediante a formação do professor e do diagnóstico inicial do aluno com surdez. Em seguida, o professor elabora o plano AEE PS, envolvendo três momentos didático-pedagógicos:
·         Atendimento Educacional Especializado em Libras, onde o AEE se encontrará no contraturno, planejando com os professores das disciplinas, buscando recursos, criando e explicando conceitos e ampliando o vocabulário técnico em LIBRAS.
·         Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa escrita; Feito no contraturno por profissional gabaritado ao ensino de Letras, preferencialmente. Este irá fomentar a leitura e a escrita da LP na PS. A exigência do aprendizado da Língua Portuguesa do aluno com surdez não se dá no mesmo tempo e ritmo que os ouvintes.
·         Atendimento educacional especializado para o ensino de Libras, feito por instrutor e/ou professor de LIBRAS, preferencialmente surdo. Este momento no AEE o aluno aprende os aspectos da língua e seus aspectos e parâmetros.
Essas contribuições são considerações  importantes para o ensino da pessoa com surdez. Os conteúdos ministrados em língua oral, não garantindo o efetivo desenvolvimento e aprendizagem são exemplos do fracasso que pode acontecer neste processo. Para tal o plano de AEE PS deve respeitar o ambiente comunicacional das duas línguas e a participação ativa e interativa dos alunos com surdez, assegurando uma aprendizagem efetiva.


[1] SUPLINO, M.H.F de O. Inclusão mediada: considerações iniciais. Rio de Janeiro: Ed. Diferenças, 2011.